Este é um relato pessoal que tem muito a ver com o que muitos pós-graduandos passam durante sua vida acadêmica. Olhando para trás, é difícil entender porque foi tão sofrido, mas a ideia é apenas refletir um pouco sobre o processo.
pesquisa; pós-graduação; memória; depressão; setembro amarelo

Falar é a melhor solução! Penso que, algumas vezes, tentei. Nem sempre. Busquei ajuda profissional. Não resolveu tanto assim e, por incompatibilidade de horários, não pude continuar. Não busquei mais.
Mas, gostaria de comentar um pouco sobre um assunto que já é tema de muitas pesquisas e reflexões disponíveis em diferentes suportes - livros, internet, revistas -, a depressão e o desejo do suicídio. De alguma forma, isso é um pouco recorrente em minha vida - pensei no suicídio na adolescência, depois lá pelos vinte e tantos e, depois, durante o doutorado. Também, estive deprimida em muitos períodos da vida e parece que é sempre um vai e vem de emoções boas e de emoções ruins. Mas nada na minha vida foi semelhante ao tempo em que fiz o doutorado, quando a dor e a vontade de desistir foram maiores do que tudo que conheço. Credito tal dor às muitas frustrações e dificuldades: houve planos de uma vida esperando serem concluídos nessa etapa e que não se realizaram, tais como um doutorado sanduíche.
Infelizmente, nem tudo depende de nós e faltou preparo de minha parte para lidar com todas as coisas que não dariam certo. Quanto ao doutorado sanduíche, numa oportunidade passei na seleção e o governo cortou a verba, na outra oportunidade, não fui selecionada e, numa terceira oportunidade, novamente fui escolhida e o governo não implementou a bolsa. Era o SONHO da uma vida!!!! Como eu podia lidar com o fato de que todos os que eu conhecia estavam fazendo o sanduíche fora do país e eu não?
No dia da defesa, os olhos encheram d'água ao final. Foi uma emoção de alívio, mais do que de alegria ou qualquer outra coisa. Ali eu sabia que muito do sofrimento acabaria. O que colhi depois foi uma leveza que veio aos poucos, conforme o peso dos últimos quatro anos ia se afastando. A maturidade que desenvolvi também se deveu a esse sofrimento todo: houve bloqueio de escrita, houve vontade de desistir, inúmeras vezes - desistir da vida e desistir do doutorado. Quando adotei dois gatinhos, três meses antes de defender, as coisas foram melhorando um pouco. Vale dizer que eu lutei muito contra a desistência do curso, pois tinha muito claro que eu não me perdoaria no futuro. Isso era o que me motivava, mas, ainda assim, não era a motivação certa, já que não me ajudava a evoluir na pesquisa. Bom, engordei muito, "briguei" com a tese, não queria escrevê-la, mas fiz.
Hoje, sinto o valor do que meu esforço em lutar por mim mesma. Sim, eu lutei por mim, mais do que por uma causa ou uma discussão teórica. Cresci quanto ao aprendizado, aos conceitos usados e à reflexão que empreendi, mas meu crescimento pessoal se deu na mesma medida do crescimento intelectual.
O que fica de aprendizado, também, é o de que não há receitas. Cada um passa por suas dores e, muitas vezes, ninguém se dá conta. Por isso: falar é a melhor solução. Ao redor, cada um empreende uma luta diária consigo mesmo e com seu próprio mundo. Culpa deles? Não!
Comments