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Já se sentiu nada? Já tentou falar com alguém surdo e mudo?
Não estou falando de alguém que não consiga ouvir ou se comunicar pela linguagem falada, mas de alguém que não escuta, que não sente a importância da transparência e a necessidade de tratar com mais humanidade as tarefas relativas à área em que se atua e falo aqui, principalmente, da Educação.
Hoje, me reduziram ao nada, à insignificância.
Conto o contexto: sou professora de turmas de inglês no Ensino Fundamental – séries finais – e de turmas de inglês na Educação Infantil. Pasmem: não tenho formação para atuar na Educação Infantil, mas este não foi um argumento válido quando questionei o fato. Mas fizeste concurso para isso?! Não! Não precisei ler nenhum documento relativo à Educação Infantil para realizar a prova, bem como não tive acesso a nenhum documento que mencionasse o inglês presente desde o pré até o nono ano do Ensino Fundamental, de modo que eu jamais imaginaria que pudesse estar realizando um concurso no qual tivesse que atuar com qualquer ano que não fosse do 6º ao 9º, para o que minha Licenciatura em Letras me habilita. Bom, mas não é disso que quero falar hoje...
Quero falar sobre o nada...
Do nada, sem aviso qualquer, uma das turmas para a qual deveria postar atividades na quarta-feira recebeu as atividades de inglês de outro professor... Questionei a equipe diretiva: nenhuma resposta! Nada, de novo!
Dei-me conta do papel descartável que é ser professor... Não é de hoje... Aliás, talvez poucas vezes na vida pude sentir qualquer valorização... Tão nada, tão insignificante que não precisa de um e-mail (nestes tempos de universo online e de pandemia) para avisar sobre mudanças na rotina, nas turmas, nas tarefas... Para quê? Quem não acompanha os fatos, se desatualiza, não é mesmo?, dizem! E tão logo perde a vez, a voz, o lugar...
Daí que fui buscar uma imagem para representar o texto, partindo da palavra NADA, e encontrei um post de Ewerton Neto, no blog O Estado, intitulado “A verdadeira história do nada”. Nele, o autor destaca sobre que, antes do Tudo, só habitava o Nada, e, quando o Tudo dominou o todo, a única coisa que permaneceu quase Nada foi o tamanho do cérebro humano. “[...] É como se o Nada impusesse, para dar lugar ao Tudo, uma obrigação contratual: ‘Tudo bem, eu deixo o Tudo surgir mas o único ser que vai poder pensar terá de ser um… quase Nada’” (NETO, 2020). Além disso, “[...] Recente reportagem da revista Superinteressante mostra que nosso corpo é constituído mais de nada que outra coisa e, mais precisamente, 99,9999999999 % do volume do nosso corpo é constituído de vazio puro, oco, portanto” (NETO, 2020).
Segundo o autor, o cérebro é Nada, o corpo é praticamente feito de Nada... Fui buscar a reportagem da revista Superinteressante: “[...] Talvez o nada seja algo intrinsecamente instável, que tenda sempre a se transformar em alguma coisa e em antialguma coisa” (VAIANO, 2019).
Ok! Tudo bem ser nada! Espero mesmo que eu me transforme em alguma-coisa e em anti-alguma-coisa. Faz um sentido imenso para mim, já que minha vida tem sido assim de readaptar as impressões, as tarefas, os modos de ser e de pensar: um sujeito inconcluso, portanto!
Referências:
NETO, Ewerton. A verdadeira história do nada. In: Blog O Estado, 2018. Disponível em <https://www.blogsoestado.com/ewertonneto/2018/06/03/verdadeira-historia-do-nada/>. Acesso em 03 jun. 2020.
VAIANO, Bruno. Tudo sobre o nada: 4 grandes fatos a respeito do vazio. In: Superinteressante, 2018. Disponível em <https://super.abril.com.br/ciencia/4-grandes-fatos-sobre-o-nada/>. Acesso em 03 jun. 2020.
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